segunda-feira, 6 de maio de 2013

O próximo dia de David Bowie



Um dos melhores discos dos últimos anos
ART ROCK MAGAZINE

Tem alguma coisa em Heroes que não agrada a David Bowie. Talvez alguma faixa que se arrependeu de ter gravado, que na época passou desatento. Como se sabe, sabe-se muito pouco sobre o novo disco de Bowie. Uns dizem que ele está nostálgico, voltando ao passado. Heroes contém uma das faixas mais atmosféricas da carreira do Camaleão, Moss  Garden, com participação do lisérgico Robert Fripp (ex- King Crimson). O disco, juntamente com Low e Lodger, fez parte da fase Berlinense de Bowie. (Sabe Deus o que isso quer dizer, ironicamente falando). Mas foram três álbuns produzidos e gravados quando Bowie residia na Alemanha na segunda metade dos anos de 1970. Berlim nessa época não era o melhor lugar para se morar, uma vez que a Alemanha ainda ressentia dos danos provocados pela 2ª Guerra e o cheiro do nazismo ainda dava para ser sentido no ar. A faixa Neuköln (Nova Colônia), de Heroes, procura transmitir um sentimento, uma fala, talvez, uma denúncia...

The Next Day não caminha para esse lado, mas a parte mais intrigante é em relação a capa. Há uma pista aí. O rótulo branco sobre a capa de Heroes e o título “Heroes” riscado levam a impressão que The Next Day é uma substituição do álbum de 1977; talvez uma releitura dele.

Há semelhanças em todos os sentidos entre os dois álbuns, guardadas as diferenças de épocas. Há um dado curioso em Heroes não compactuado em The Next Day: Heroes traz fotos de um Bowie em crise, perturbado enquanto The Next Day traz apenas uma foto de um Bowie convicto, sério, “sóbrio” e somente em segundo plano, pois no primeiro a foto aparece com o quadrado branco sobre ela. Isso naturalmente não é à toa.

Não é fácil compreender as fases de David Bowie. Durante toda a carreira ele mudou de “personagem”, de estilos, procurou se achar em cada momento em que a música se inseria no ambiente em que estava, mas sempre sem perder a sua identidade. Bowie sempre esteve um passo adiante de seus contemporâneos. Produzindo música que expressam o momento vivido. The Next Day é mais uma obra de Bowie. Um disco recheado de surpresas, denso, encorpado que traz consigo uma história que talvez só seja desvendada no futuro.

Quem sabe, o próximo dia?