Por Márcio Baraldi - (whiplash.net)
A história do rock está repleta de bandas excelentes que infelizmente, por um motivo ou outro, não alcançaram o merecido sucesso, são as famosas bandas “injustiçadas”. E em meio a tantas que compõem essa lista, vale destacar o soberbo New Model Army.
Uma das bandas mais inflamadas e estimulantes de todos os tempos, o NMA é o elo perdido entre o Clash e o Rage Against the Machine, fazendo de suas canções, verdadeiros hinos libertários; e de sua existência uma missão quase sagrada. Ausentes do mercado brasileiro há muitos anos, talvez os leitores mais novos só os conheçam pelo hit “51th State”, por isso vale a pena dar uma geral rápida na carreira desse incendiário power trio.
Formada no subúrbio industrial de Bradford (o ABC paulista da Inglaterra) em 1980 por Justin Sullivan (mais conhecido como Slade, the Leveller), vocal e guitarras, Rob Heaton, bateria e guitarras, e Stuart Morrow, baixo; a banda roubou seu nome homônimo do exército revolucionário inglês do século 17, cujos membros eram conhecidos como “levellers” (niveladores ou igualitários), pois pregavam um modelo de sociedade sem diferenças sócio-econômico e cultural.
Esquerdistas de carteirinha e politizados até a medula, a bandas começou com um punk rock cru e urgente, porém com características próprias bem marcantes, como uma bateria militar galopante e linhas de baixo extremamente agudas e acrobáticas, o que lhe conferiu desde o princípio uma sonoridade peculiar e inconfundível. As letras então eram um capítulo a parte, pois o verborrágico e extremamente culto Slade consumia Bob Dylan em altas doses, tornando-se em pouco tempo, ao lado de Jello Biafra (Dead Kennedys) e do próprio Dylan, um dos melhores e mais lúcidos letristas da história do rock. Nada escapava de sua artilharia lírica: do imperialismo yankee às dificuldades da vida em família; da guerra das Malvinas às estupidez do uso das drogas.
Mas nem tudo eram flores, depois de gravarem dois discos Vengeance (1984) e No rest for the wicked (1985), o genial baixista Morrow deixa a banda. Imediatamente recrutaram Jason Harris para seu posto, que o substituiu com extrema competência. Passaram então a incorporar cada vez mais folks celtas e ciganos em seu trabalho, crescendo como músicos e alcançando uma sonoridade muito mais madura e consistente e cada vez mais original e viril. Com essa formação, transbordando energia e criatividade, gravaram três discos impecáveis: The ghost of Cain (1986), Thunder of Consolidation (1989) e o compacto White Coats (1987).
Em 1989, porém, foi a vez de Jason deixar a banda para a entrada do baixista Nelson. Com a formação reposta, o NMA veio no Brasil em 1991, em três shows antológicos. Com a nova formação gravaram Impurity (1990), The Love of hopeless causes (1993) e Strange Brotherhood (1998). No final de 1998, nosso bravo exército sofre mais uma baixa, dessa vez o batera Rob Heaton, um dos fundadores da banda, sai para se dedicar a seu novo projeto musical Gardeners of Eden. Em seu lugar entra seu roadie Michael Dean, com quem acabara de gravar Eight (2000).
As convicções e o sucesso fora da Inglaterra
Infelizmente, apesar da altíssima qualidade, originalidade e inteligência de sua obra, o
NMA continua uma banda cult, pouco (re) conhecida fora da Inglaterra. Mas eles não se importam com isso, sempre tiveram uma postura rígida e nunca admitiram qualquer interferência das gravadoras para “comercializar” mais seu som (seus contratos com as gravadoras chegavam a incluir uma cláusula que lhes garantia total liberdade de criação), recusaram muitos programas de TV com os quais não simpatizavam e nunca tiveram papas na língua, cornetando duramente contra o governo, multinacionais, gravadoras, mídia, modismos e tudo mais com o qual não concordavam.
Seu carinho e lealdade, no entanto, guardaram sempre para os fãs em todo o mundo, chegando a interromper o show e a pular do palco para defendê-los de seguranças truculentos.
No entanto, todo esse caráter e atitude, tão raros atualmente tiveram seu preço: foram ignorados por boa parte da crítica, tivera músicas banidas de inúmeras rádio, são boicotados nesses famosos festivais patrocinados por cigarros (por serem abertamente contra o fumo) e chegaram a ser proibidos de entrar nos EUA. Em compensação tocaram (e tocam) em prol de todas as causas justas, possíveis e imagináveis: festivais ecológicos, antidrogas e antirracismo, sendo considerados a maior banda underground da Inglaterra, onde continuam entrincherados, gravando por selos independentes. Aliás, a independência sempre foi a palavra chave para o New Model Army. Afinal, não é justamente para defendê-la que surgem exércitos revolucionários?
Saiba mais sobre o New Model Army
HISTÓRIA - O New Model Army ("Exército de Novo Modelo") foi um novo conceito de organização do exército, introduzido durante a Gherra Civil Inglesa, porOliver Cromwell, seu comandante, membro daCâmara dos Comuns. Era formado pela baixa burguesia e pelos camponeses - diferenciava-se por adotar uma política de promoções baseada no mérito dos combatentes e não no seu nascimento, já que, à época, os militares de alto escalão pertenciam à nobreza - e financiado por um imposto nacional. Com estes fundamentos Cromwell viabilizava a formação de uma carreira militar, um incentivo a homens de famílias humildes a procurarem o exército. O talento de Cromwell e a disciplina de sua cavalaria foram responsáveis pela vitória dos parlamentares na batalha de Marston Moor(1644) e, posteriormente, na batalha de Naseby (1645).
A BANDA – O New Model Army é uma banda de Rock com tendências ao gótico baseada em Bradford, cujos primórdios remontam de 1980, associada de início ao movimento punk e pós-punk, expressos por aquele contexto cultural britânico e com posturas esquerdistas de crítica principalmente a política de submissão e colaboracionista do governo inglês ao estadunidense e outros assuntos como a Guerra das Malvinas.
DISCOGRAFIA DA BANDA
Vengeance Progressive (1984)
No Rest for the Wicked (1985)
The Ghost of Cain (1986)
New Model Army (1987)
Vengeance: The Independent Story Progressive (1987)
Thunder & Consolation (1989)
Impurity (1990)
The Love of Hopeless Causes (1993)
Raw Melody Men (1994)
Big Guitars in Little Europe Wooltown (1995)
Strange Brotherhood (1998)
Eight (2000)
RawMelody Men (2000)
Carnival (2005)
High (2007)