Depois de quatro anos sem nenhuma expectativa por parte dos fãs, eis que “IRON MAIDEN: 30 Years of the Beast” surge no mercado editorial brasileiro. A obra, que é uma biografia não autorizada de uma das maiores lendas do metal mundial, foi escrita pelo jornalista Paul Stenning, um reconhecido colaborador das principais revistas de heavy metal da Europa. Embora possua uma série de adjetivos favoráveis na sua contracapa, o livro está longe de ser o registro definitivo e mais detalhado sobre a carreira da Donzela.
Em uma iniciativa pioneira em nosso mercado, a Beast Books desponta como a única editora especializada em livros de rock e heavy metal do país. O seu primeiro lançamento não poderia agradar mais os fãs da música pesada: a biografia de Paul Stenning é a primeira a tentar contrapor a obra “Run to Hills” – o registro oficial e completo (com mais de quatrocentas páginas) sobre a carreira do IRON MAIDEN – assinada por Mick Wall, outro famoso escritor dos astros do rock. No entanto, “30 Anos da Besta” peca por uma série de motivos. Embora possua o rótulo de não-autorizada, Stenning não soube explorar os aspectos mais controversos da trajetória de Harris & Cia. e construiu uma análise superficial sobre a história da Donzela.
Com uma quantidade interessante de entrevistas realizadas com quase todos os integrantes da banda nos últimos vinte anos, Paul Stenning se aproximou, posteriormente, aos ex-membros e roadies do Iron Maiden para construir o seu ponto de vista sobre a história do grupo. O relato do escritor inglês inicia – como não poderia ser de outra maneira – a partir do interesse de Stephen “Steve” Percy Harris pelo rock n’ roll. Embora apenas mencione a carreira do músico iniciante com o GYPSY’S KISS e o SMILER (nos primeiros anos da década de setenta), é a primeira formação da Donzela – Paul Day (vocal), Terry Rance e Dave Sullivan (guitarras), Steve Harris (baixo) e Ron Rebel (bateria) – que serve como pontapé para a obra.
Com uma quantidade interessante de entrevistas realizadas com quase todos os integrantes da banda nos últimos vinte anos, Paul Stenning se aproximou, posteriormente, aos ex-membros e roadies do Iron Maiden para construir o seu ponto de vista sobre a história do grupo. O relato do escritor inglês inicia – como não poderia ser de outra maneira – a partir do interesse de Stephen “Steve” Percy Harris pelo rock n’ roll. Embora apenas mencione a carreira do músico iniciante com o GYPSY’S KISS e o SMILER (nos primeiros anos da década de setenta), é a primeira formação da Donzela – Paul Day (vocal), Terry Rance e Dave Sullivan (guitarras), Steve Harris (baixo) e Ron Rebel (bateria) – que serve como pontapé para a obra.
Entre os primeiros shows no Ruskin Arms e no Cart and Horses, não existe nada em “30 Anos da Besta” que possa ser chamado de inédito para os fãs mais fanáticos. Entretanto, muitos dos pontos abordados ainda podem ser uma novidade para os mais novatos – e o conflito Iron Maiden vs. punk rock é o mais notável desse repertório à parte. De qualquer modo, Stenning prejudicou a obra por não aprofundar os episódios de bastidores da Donzela, que cercaram os primeiros espetáculos, o EP “The Soundhouse Tapes” (que chegou a ser roubado) e os detalhes do contrato com a EMI. No entanto, as entrevistas com o ex-baterista Thunderstick (e ex-companheiro de Dickinson no SAMSON) e o ex-tecladista Tony Moore, que atuaram com a banda na década de setenta, até podem ser relevantes para um preenchimento diferenciado da obra.
Por outro lado, ninguém precisou ser um gênio para reconhecer, desde os primeiros dias de banda, o comprometimento que Steve Harris tinha quanto aos próximos passos que o IRON MAIDEN daria no futuro. Claramente, Harris possui uma destreza ímpar para os negócios e a Donzela é a maior prova disso. De outro lado, Rod Smallwood – que se tornou o empresário da banda – vendeu a sua casa para que pudesse investir com mais recursos no nome que despontava frente à NWOBHM. Paul Stenning, que preferiu dividir os capítulos de “30 Anos da Besta” conforme os discos do IRON MAIDEN (um para cada álbum), preencheu a obra com análises e comentários sobre as músicas sem abordar questões inéditas e/ou polêmicas. Nos dois primeiros anos com a EMI, as saídas de Dennis Stratton e Paul Di'Anno parecem vistas com um olhar muito distante, sem considerar os conflitos dos dois músicos com o restante da banda. Na realidade, Stratton foi demitido por não ser um guitarrista de heavy metal. Do outro lado, o vocalista – que constantemente se envolvia com drogas e com a polícia – comprometia a carreira do IRON MAIDEN com o seu comportamento.
De um modo parecido, a entrada de BRUCE DICKINSON na banda – cercada por uma tensão com Paul Samson (o homem por trás de sua ex-banda) – impossibilitou que o cantor gravasse com a sua nova banda entre setembro de 1981 e abril de 1982. Embora cite esse e quase todos os outros contratempos que o Iron Maiden enfrentou durante as turnês Beast on the Road e World Piece Tour, Stenning, mais uma vez, deixou muitos dos aspectos controversos da Donzela em menor tamanho dentro da obra. Dickinson, que começou a dar indícios do seu descontentamento com as extensas turnês (e acenar para uma saída do grupo), aparece com certo destaque em “30 Anos da Besta”. No entanto, o primeiro show do Iron Maiden na América do Sul – no primeiro Rock in Rio, para um público estimado em duzentas mil pessoas – sequer possui uma referência dentro do livro. Por outro lado, o autor analisa os discos com uma nítida paixão de fã e aponta “Piece of Mind” (1983) como o melhor registro de Harris & Cia até hoje.
Embora possua uma sequência de esquecimentos relevantes para a obra, “30 Anos da Besta” consegue construir, principalmente, um relato interessante sobre a trajetória de BRUCE DICKINSON frente à banda, sobretudo a partir de “Somewhere in Time” (1986) – disco que evidenciou os interesses musicais opostos do cantor e do restante dos músicos. Claramente, Paul Stenning aproveita o capítulo sobre esse álbum para caracterizar como extremamente importante as capas assinadas por Derek Riggs para a consolidação da marca Iron Maiden em todo o mundo. Entretanto, o escritor não aproveitou o capítulo seguinte para detalhar quais foram os conflitos musicais internos que culminaram na saída de Adrian Smith, pouco antes de a banda iniciar a produção de “No Prayer for the Dying” (1990) – um dos mais controversos discos do grupo (e que é muito elogiado por Stenning).
De uma forma desnecessária para uma biografia como essa, o escritor explicita demais o seu ponto de vista sobre a qualidade das músicas da Donzela, enfatizando uma análise bastante íntima quanto aos registros de estúdio do Iron Maiden. A história do grupo, supostamente sem nenhum tipo de censura, acaba sendo apresentada em segundo plano ao longo do livro. Em “30 Anos da Besta”, Stenning sequer comentou as suspeitas de plágio que até hoje ainda cercam “2 Minutos to Midnight”. Ele tampouco buscou desmembrar e contextualizar os conflitos que existiram entre BRUCE DICKINSON e Steve Harris durante a turnê de “Fear of the Dark” (1992), que quase ocasionaram o fim precoce da banda. De outra forma equivocada, o escritor preferiu dedicar uma sequência de páginas para contar os primórdios do WOLFSBANE, sem ao menos mencionar o sério acidente de moto que BLAZE BAYLEY sofreu em fevereiro de 1994 – que atrasou por cerca de três meses as gravações de “The X-Factor” (1995).
Os conflitos, que deveriam ganhar uma nova perspectiva em uma biografia que se diz não-autorizada, são sempre mostrados de modo raso e rasteiro. Da mesma forma que os outros dois vocalistas que o antecederam, BLAZE BLAYEY não deixou a Donzela amigavelmente, como os relatos oficiais tentam apontar. Os constantes erros do cantor ao vivo, assim como o fracasso que se acentuou ainda mais em “Virtual XI” (1998), definitivamente resultaram na demissão precoce de Bayley. Paul Stenning – ao invés de explorar os motivos, dentro da própria banda, responsáveis pela perda de popularidade (em nenhum momento aceita um novo encaminhamento sonoro do IRON MAIDEN) – prefere considerar uma possível morte do gênero metálico, não pelo grunge e pela ascensão do NIRVANA na década anterior, mas pela postura polêmica que o Metallica assumiu anos depois.
Na sequência, o autor inglês relata (com pouca profundidade, mais uma vez) o contexto criado para volta de BRUCE DICKINSON e os preparativos do álbum “Brave New World” (2000), que devolveu o status de celebridade aos músicos do Iron Maiden. Stenning, um fã declarado de Dickinson, considera inexpressivos os anos em que BLAZE BAYLEY esteve com a Donzela, até mesmo quando mostrou qualidade e criatividade em “Virus”, faixa inédita que compõe a coletânea “Best of the Beast” (1996). De qualquer maneira (e como não poderia ser diferente), o autor superestimou a carreira solo do cantor, inclusive das controvérsias que envolvem a qualidade sonora de “Sunkworks” (1996) e “Tyranny of Souls” (2005). Os fãs mais exigentes – que provavelmente esperavam um relato histórico mais imparcial – discordarão de muitas das avaliações feitas por Stenning.
Embora não chegue a abordar os anos mais recentes da banda, Stenning conseguiu agrupar uma série de informações curiosas sobre os integrantes do Iron Maiden. Dickinson, um cara muito interessado por história e literatura, é dono de uma biblioteca particular com cerca de sete mil livros. De outro lado, a sua paixão pela esgrima o fez representar os ingleses no Campeonato Europeu de 1989, durante as férias após a turnê de “Seventh Son of a Seventh Son” (1988). De qualquer modo, essas informações até podem parecer irrelevantes e/ou desnecessárias dentro do contexto maior da obra, que deixou de fora os detalhes que levaram Adrian Smith se juntar ao projeto solo de Bruce a partir de “Accident of Birth” (1997).
No encerramento de “30 Anos da Besta”, uma entrevista reveladora com Derek Riggs (praticamente um apêndice à biografia) mostra o quão difícil era trabalhar com Rod Smallwood, do ponto de vista do artista. Riggs conta que nunca chegou a tratar diretamente com os músicos sobre os conceitos das capas que desenhou, assim como deixa claro a pressão que o empresário do Iron Maiden colocava sobre as suas costas. As capas, que precisariam de um mês para ser completamente desenhadas, eram entregues em apenas três dias por conta das exigências comerciais. Derek Riggs, ao contrário do que muitos possam imaginar, nunca conseguiu receber uma quantia relevante por Eddie – certamente a sua criação mais importante – e possui uma vida modesta nos dias de hoje.
Em uma análise bastante crítica, “30 Anos da Besta” é uma obra muito fraca, onde o jornalista Paul Stenning se mostrou mais preocupado em dar a sua opinião sobre os discos da banda do que construir um relato próprio e, consequentemente, uma visão singular sobre os fatos (obscuros ou não) que existem por trás da carreira do Iron Maiden. Certamente, os fãs mais exigentes irão se decepcionar com a análise rasteira dos temas abordados. Com pouco mais de duzentas páginas (provavelmente pouco para esmiuçar trinta anos de carreira), é nítido que faltou destreza para a pesquisa de Stenning. “30 Anos da Besta” aproveita do rótulo de não-autorizada que possui. A maioria das histórias encontradas na obra está à disposição em revistas especializadas e em páginas na internet.
Por fim, uma característica de “30 Anos da Besta” não poderia passar em branco: o livro possui uma impressionante quantidade de falhas técnicas. Os erros de português e de digitação aparecem em série em cada página, muitos deles imperdoáveis para uma editora que busca reconhecimento no mercado. Do mesmo modo, a tradução se mostra errônea em muitos momentos. Ela mistura nomes de músicas e de discos constantemente – o que ainda deixa claro a ausência de um revisor mais atento. Entre poucos altos e muitos baixos, “30 Anos da Besta” ficou, infelizmente, muito aquém do esperado. Não há um custo/benefício relevante para essa obra que custa absurdamente R$70 (em média).
Fonte: Whiplash - Reprodução Autorizada
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