MARCELO MOREIRA
Elvis Presley não
criou o rock, nem mesmo o formatou, mas sem ele o gênero jamais teria se
tornado o que é hoje. São raros os artistas que conseguem se transformar em
sinônimo de algo. Alguns são a verdadeira personificação de um instrumento
musical, como o guitarrista Jimi Hendrix . Elvis é sinônimo não só de rock, mas
de toda uma transformação social que assolou o Ocidente a partir dos anos 50.
Nenhuma outra
celebridade ou figura histórica imprimiu sua marca tão forte em tão pouco
tempo. Foram apenas quatro anos de vida a mil em alto nível, mas o mundo do
entretenimento e a cultura ocidental nunca mais foram as mesmas.
De 1956 a 1960
Elvis fez de tudo na música e no cinema e deu o direcionamento para a criação e
crescimento do entretenimento como negócio, equiparando a música (no caso o
rock) ao tamanho do cinema norte-americano. Não é exagero dizer que o cantor é a
pedra fundamental da cultura do século XX.
Após servir ao
exército norte-americano por mais de um ano, Elvis retomou a carreira, só que
mais domesticado e mais inserido no marketing de entretenimento de massa. A
música passou ao segundo plano, com o cinema de qualidade duvidosa tomando
quase todo o seu tempo.
Os álbuns foram
rareando, assim como a inspiração e as performáticas apresentações. Tudo piorou
quando os ingleses resolveram reclamar um lugar no banco da frente, quando os
Beatles chegaram com tudo. Elvis Presley tentou respirar e foi atropelado em
seguida pelos Rolling Stones e pelos Beach Boys.
O mundo mudava
muito rápido e o rei do rock continuava tateando em busca de novos caminhos
quando Bob Dylan estourou de vez e mais ingleses impertinentes se apossaram das
paradas, como The Who, The Animals, The Kinks, The Yardbirds, Cream e um tal de
Jimi Hendrix.
Quando finalmente
Elvis saiu do retiro e decidiu voltar com tudo à música, em 1968, soava como um
músico datado, um artista de outra era, apesar da reverência e do imenso
respeito que todos devotavam a ele.
Se o conceito de
“dinossauro do rock” existisse naquela época, seria perfeitamente aplicável
neste caso. Elvis já era lenda, mas começou a ser tratado por parcela
importante do mercado como algo ultrapassado, no mesmo balaio dos então
esquecidos grandes nomes do jazz e do blues que ainda insistiam em se manter na
ativa – gente fraquinha como B. B.
King, Muddy Waters, Howlin’ Wolf, Miles Davis…
Seja como for, os
especiais de TV de 1968 e dos anos seguintes reacenderam parte do interesse na
música do rei do rock, reapresentando-o a uma geração roqueira preferia nomes
mais contemporâneos e que considerava a música dos pioneiros como “coisa do
século anterior”.
A reverência
continuou, mas o mercado foi inclemente e exilou o rei do rock nos cassinos de
Las Vegas, colando um inacreditável rótulo de artista ultrapassado e decadente
– e o pior é que Elvis não reagiu: resignado, aceitou ser uma caricatura de si
mesmo até a sua morte, em agosto de 1977, aos 42 anos.
O homem que
personificou o rock e que fez com que o gênero musical mudasse a história
cultural da humanidade foi engolido por sua criatura. Foi incapaz de lidar com
a avalanche de energia, intensidade e criatividade proporcionadas pelo rock.
O personagem Elvis
se tornou muito maior do que qualquer um poderia imaginar e dominou de tal
forma a vida do ser humano Elvis Aaron Presley que o aprisionamento a uma vida
irreal era inevitável, mesmo que os tempos indicassem claramente decadência
artística e criativa.
Elvis foi o
personagem do nosso tempo. Impossível pensar em uma representação melhor.
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