sábado, 26 de janeiro de 2013

Um clássico que atravessa gerações

Capa de Demons and Wizards

ART ROCK MAGAZINE

Há uma máxima com as bandas dos anos 70 de que sempre o primeiro disco é o melhor de todos os demais. Evidentemente isso não passa de uma bobagem, basta lembrar de Led Zeppelin, Beatles, Rolling Stones, Pink Floyd e tantas outras bandas. Alguns álbuns são marcantes como Abbey Road dos Beatles, IV do Led Zeppelin ou The Wall do Pink Floyd, todos esses estão muitos distantes de serem os primeiros. Nessa linha, destaca-se o extraordinário Demons and Wizards, quarto disco da banda inglesa Uriah Heep, lançado em 1972.

É neste álbum que contém o mais famoso hit da banda, Easy Livin, um clássico reservado para amantes do rock and roll. Entretanto, a atmosfera alçada pela banda remete a níveis superiores com a sensacional Paradise, uma canção e deixar qualquer um de queixo caído. Nessa, as cordas dos violões, o baixo suavemente tocado acrescido da voz de David Byron que pluma a sonoridade. Isso tudo recheia essa canção que coloca o Uriah Heep entre as melhores bandas de rock de todos os tempos.

O Uriah Heep iniciou seus trabalhos em 1969 (embora a banda em si já existisse antes por volta de 1965 com outros nomes e variações na formação), mas atingiu o ápice na carreira com a formação clássica composta por Mick Box (guitarra)), David Byron (vocal), Ken Hensley (guitarra), Gary Thain (baixo) e Lee Kerslake (bateria).

Curiosamente, o primeiro disco Very 'Eavy... Very 'Umble, de 1970 saiu nos Estados Unidos com o mesmo nome da banda. Isso era muito comum acontecer, pois as bandas sempre focavam no mercado americano uma estratégia diferente. No entanto, o Uriah Heep nunca emplacou de fato por lá, voltando-se mais para a Europa e Japão.

Demons and Wizards é um álbum clássico que de uma banda diferenciada que vem atravessando gerações e que deve ser reverenciado e guardado em lugar especial na discoteca de qualquer amante do bom e velho rock and roll.

“Crusader”, um marco do heavy metal dos anos 80

Capa de Crusader: atmosfera medieval

ART ROCK MAGAZINE

Os anos 80 não foram muito bons para a cena roqueira. A década de 70, especialmente de19 70 a 1975 foram anos sagrados para o rock e todo o mundo. As bandas inglesas explodiram com grandes sucessos e uma criatividade musical jamais vista. É verdade que essas bandas vieram da década anterior, anos 60, mas os maiores sucessos foram compostos na de 70 inegavelmente; há exceções, é claro, destacadamente com Led ZeppelinBeatles e Rolling Stones. O rock exibia a sua melhor performance num cenário rico em inspiração, elementos escasso nos dias de hoje. Se antigamente usar cabelos compridos ou arrepiados era sinônimo de rebeldia, hoje são os sertanejos bregas ridículos que se vestem totalmente  fora da sintonia que a música “caipira” aceitaria como estilo.

Os anos 80 foram pobres talvez porque houve uma grande mudança nos costumes das pessoas. As grandes bandas que explodiram no passado até então, algumas delas já haviam sido extintas, outras esgotaram seus repertórios de criatividade, quero dizer, o que havia de bom a ser feito, havia sido feito!

O heavy metal passou a experimentar o teclado sintetizador, bateria eletrônica, o rock de arena passou a ser a vertente da década. Bom JoviEuropeMötleu Crue, PoisonSkid Roll, entre outras, passaram a ser os nomes das bandas mais ouvidas nas rádios e a sustentar a cena roqueira. Enquanto isso, Rolling Stones lançaram um de seus piores álbuns, implodindo uma banda revelando notadamente uma crise de identidade, logo os Stones , uma banda até então marcada por inúmeros sucessos...  Era um novo estilo, não necessariamente bom ou ruim, mas foram essas bandas que envidraçaram o rock e todo o mundo.
Mas uma banda, ao contrário de várias outras onde incluímos nesse lote o ACDC, lançou um de seus melhores álbuns, para muitos, o melhor. Crusader, disco lançado em 1984 pela banda inglesa Saxon, foi uma das preciosidades que o heavy metal guardou para entrar na história dessa famigerada década.

Liderado pelo vocalista Biff Byford,  Crusader foi 6º álbum do Saxon, que gravou o 1º, homônimo, em 1979. O Saxon sempre usou aura medieval, radicada numa temática que o próprio Crusader foca com toda a originalidade. O disco começa com The Crusader Prelude, uma introdução com cavalos andando, relinchando e tormentas mostrando o que restou de uma grande batalha cruzada. A música Crusader nem é tão extrema assim como a capa do disco pode sugeri, mas o que mais a marca é a marcação e o peso das guitarras. É uma música cadenciada e muito gostosa de ser ouvida. Mas o disco em si não é só isso, outras músicas chamam muito a atenção pela suavidade e clareza do som, como Salling To America, um hit embalado por um contrabaixo marcante e com uma guitarra-base que arranha a música o tempo todo, além de um solo mágico que tempera a música dando-lhe um gosto todo especial. Quanto a Do It All For You, um clássico heavy metal que ficaria ainda melhor se ouvida no cume da mais alta montanha bretã.

Crusader é um disco sensacional, peça obrigatória na discoteca de qualquer amante de rock. A gravadora EMI lançou uma edição especial comemorativa remasterizada com nove bônus. A edição original contém 10 faixas. Essa nova edição, que é inglesa e importada pode ser encontrada nas lojas especializadas por aproximadamente R$ 70,00. Márcio Paula Moraes

A nova estética das histórias em quadrinhos

Cena do Filme Batman - O Retorno:
As HQs invadiram as telonas.

ART ROCK MAGAZINE

Nos estados Unidos, a indústria das HQs é frenética. Um mercado que movimenta milhões de dólares anualmente. Mas não só com as vendas das revistas. Há uma cena maior, isto é, feiras, licenciamentos de todos os tipos que conquistam pessoas de todas as idades. Vale dizer que ultimamente, a indústria cinematográfica tem reservado  espaço vip para reprodução de filmes baseados nos personagens da Marvel e DC Comics.

Os quadrinhos ganharam novos traços e características. Se antes as personagens eram quase que na totalidade masculinos, hoje não há apenas uma inversão, mas um acréscimo de outras personagens (femininos) que revelam uma ideologia infiltrada nesse segmento da cultura de massa. A mulher passa a ser vista não apenas como uma reprodutora indefesa e dona do lar, mas conquistadora de seus direitos e participativa na sociedade política e econômica. Se toda arte é política, naturalmente, as HQs não se eximem disso.  Dessa forma, consequentemente, há muita ideologia nas HQs. Os grandes super-herois de alguma forma sempre se mantém na linha a justiça vigente, que rege as sociedades ocidentais, são os baluartes da justiça institucionalizada, mas não das desigualdades sociais. Contra isso não há poder que dê jeito! Não há um superman para isso...

Personagens revê o papel da mulher
Há também um detalhe muito curioso acerca dos quadrinhos que diz respeito à ambiguidade de toda produção cultural, isto é, ao mesmo tempo em que leva à consciência; serve também à alienação. Tema esse abordado com toda propriedade pelo escritor italiano Umberto Eco no livro Apocalípticos e Integrados, onde o autor discute as duas tendências dos intelectuais diante dos fenômenos de produção de massa: os apocalípticos, defensores de uma cultura de elite, denunciam a cultura de massa como forma de alienação e massificação; e os integrados, ao contrário, a vêem como um fenômeno contemporâneo que deve ser considerado na sua novidade, não podendo ser avaliada com padrões válidos para outro tipo de produção intelectual.

Batwomen é lésbica
Note o quanto Bruce Wayne é diferente de Batman, quanto Clark Kent é diferente de Superman. Essa duplicidade de alguma forma favorece a identificação do leitor com o herói, o homem moderno recalcado que um dia sonha em ser o herói.

Outro detalhe é o racismo nas HQs. Repare que não há herois negros. No passado, quando muito, eram personagens terciários que apareciam nas histórias. Hoje, além das personagens femininas de grande porte, a DC criou o Batwing, um “batman negro” patrocinado pelo próprio Bruce Wayne que serve à justiça na África. O homossexualismo também está presente. A personagem Kate Kane, Batwoman, é lésbica. Selina Kyle, a Mulher-Gato, mantém uma relação paralela com Lola, sua parceira, que morre assassinada em “A Sombra do Batman” nº2. E é assim que novas ideologias se incorporam sutilmente na indústria cultural. Márcio Paula Moraes


“Batman – Gritos na Noite”: uma ficção real


ART ROCK MAGAZINE

“Faz algum tempo que Batman deixou de ser herói de aventura ingênuas e caricaturais para atuar no universo trágico e realista do cotidiano das grandes cidades, sempre representadas pela fictícia Gothan City.
Sinal dos tempos. Reflexo de uma época em que até mesmo os heróis entenderam que lutam uma batalha sem fim... mas continuam lutando.
Em Gritos na Noite, o Cavaleiro das Trevas mergulha fundo numa das mais amargas tragédias contemporâneas. Ao seguir a trilha de uma série de assassinatos tão brutais quanto intrigantes, Batman penetra em regiões sombrias que jamais conheceu. E percebe que existem crimes que nem mesmo ele pode solucionar.
Esta história pode ser ficção, mas a tragédia que a inspirou não é.”

Última página:o grito de um morcego perturbado
O texto acima é uma sinopse de Gritos na Noite, série em duas edições publicada pela então Abril Jovem em 1993 que traz uma das mais perturbadoras histórias de Batman. Como diz a sinopse, embora tudo seja ficção, os fatos que a inspiraram não os são.

O texto escrito por Archie Goodwin e a arte elaborada por Scott Hampton traz essa união assombrada que assola a todos que é a violência. Gritos na Noite poderia ser apenas mais uma história em quadrinhos como tantas outras, mas não é. Os autores se utilizam de um meio pop fictício para resenhar sobre o tormento vivido por sabe Deus quantas crianças e adolescentes mundo afora que sofrem de sucessivos abusos sexuais das pessoas pelas quais deveria protegê-las.

Gritos na Noite é uma história tensa e amarga que sonda a mente das pessoas mais perturbadas emocionalmente. Por que um pai violentaria o próprio filho? Essa aguda questão é uma das quais Batman não conseguirá resolver, conforme o volume 2 dessa história sugere.

Gritos na Noite é um passeio de terror pela mente humana, um teste psicossocial que leva o leitor a refletir sobre as mais perversas atrocidades que o ser humano é capaz de fazer sem demonstrar nenhum tipo de remorso ou arrependimento. Goodwin e Hampton dão vida a uma ficção ao tratar de assuntos presentes em qualquer sociedade como crimes em séries, abusos sexuais (em família), violência doméstica, etc. Esta história em quadrinhos reproduz o que assistimos nos jornais diariamente. Nela, o próprio comissário Gordon, perturbado pelo estresse que o ronda, tem uma atitude extremamente violenta com seu filho a ponto de deixá-lo perplexo e terrivelmente assustado. O caso também revela o comprometimento de seu casamento com Bárbara desgastado pelo nervosismo e a depressão de Gordon. É curioso notar como esses fatos estão presentes em nossa sociedade. Antes fosse apenas ficção! 

Diante desse quadro, Batman se vê atormentado, impossibilitado de dar fim a tudo isso e, ao mesmo tempo, fica obstinado na luta a combater os piores crimes de uma Gothan City sombria e condenada. Batman, aqui, representa a voz calada e reprimida, impotente diante dos anseios do oprimido; o grito que ninguém irá ouvir, é sufocante.

Batman – Gritos na Noite é uma das raras HQs que retrata a realidade em suas páginas. Uma edição que vale a pena ler e reler, e acima de tudo refletir sobre o que somos e o que fazemos em sociedade. Márcio Paula Moraes

Com a palavra, Jimmy Page

"De acordo com os padrões atuais, eu bebia em excesso - porque hoje ninguém bebe de verdade..."

Jimmy Page à revista Rolling Stone